Conselhos para as férias
Para quem trabalha, as férias são indispensáveis. Sem férias, o corpo e, sobretudo, o espírito, fatigam-se e ficam sem capacidade para produzir trabalho mais produtivo e mais criativo.
Para os doentes reumáticos, tantas vezes limitados na sua vida, as férias são ainda mais necessárias visto constituírem uma oportunidade para descansarem.
Os doentes reumáticos perguntam frequentemente aos seus médicos se devem gozar as férias na praia ou nas termas. Procuraremos elucidá-los. A praia é muito agradável para pessoas saudáveis, mas nem sempre pode ser utilizada pelos doentes reumáticos.
Em algumas doenças reumáticas, como por exemplo, o Lúpus eritematoso sistémico (LES), a praia está totalmente contra-indicada visto as radiações ultra-violetas da luz solar poderem agravar a doença. Vimos um dia quase morrer no Serviço de Urgência do Hospital de S. Maria, uma jovem nórdica com LES que se expôs longas horas ao sol algarvio. Casos como este, infelizmente, não são raros, e em alguns países como nos Estados Unidos, em regiões em que há muito sol como na Califórnia, na Geórgia e na Florida, há mesmo clínicas de Lúpus com o objectivo de aconselhar e ajudar os doentes. Mas não é o LES a única doença reumática em que o sol é desaconselhado.
Os doentes com artrite reumatóide, com espondilite anquilosante, e de uma maneira geral com doenças reumáticas inflamatórias agudas e crónicas, em fase de agudização, pioram na praia, pelo que não devem frequentá-la. Quando a doença está medicamente controlada, e sempre com consentimento médico, estes doentes podem fazer férias junto do mar, mas sem se exporem directamente à luz solar. Quais são então os doentes reumáticos que beneficiam com férias na praia?
Verdadeiramente, só os doentes com osteoporose, uma doença descalcificante dos ossos, visto a luz solar activar a vitamina D da pele, a qual é necessária para que o cálcio seja absorvido ao nível do intestino.
Os doentes com osteoartrose, particularmente aqueles que têm espondiloses, podem frequentar a praia onde habitualmente se sentem bem, visto o calor solar levar a um relaxamento muscular marcado. Todavia, os doentes com artrose são, por via de regra, idosos e frequentemente têm outras doenças (cardíacas, pulmonares, hepáticas, renais, etc.) que podem piorar na praia, razão que os deve levar sempre a aconselharem-se com os seus médicos assistentes antes de se exporem ao sol. Muito importante é recordar que, deitados ou sentados na areia, devem estar sempre em posturas correctas pois, de outro modo, a doença em vez de melhorar, piora. Se a temperatura da água é da ordem dos 20º - 22ºC ou superior, e se o mar é calmo, a mobilização das articulações doentes dentro da água e a natação são muito úteis. Em mares em que a água é muito fria, como acontece na costa ocidental portuguesa a norte do Cabo da Roca, os doentes não devem tomar banho visto os músculos se contracturarem com o frio, levando ao agravamento das dores. O banho de sol deve ser tomado entre as 9h e as 11h da manhã, ou à tardinha, entre as 17h e as 19h, e deve ser de duração progressiva, isto é, os doentes devem começar por tempos de exposição curtos (10m a 15m) e irem aumentando gradualmente a sua duração até um máximo de 2h a 3h por dia.
As TERMAS são usadas no tratamento das doenças reumáticas desde o tempo dos romanos, e embora não haja uma base científica para explicar o facto, a verdade é que os doentes artrósicos passam melhor os Invernos subsequentes ao tratamento termal. Independentemente do eventual efeito benéfico das águas medicinais, são muito importantes a mudança de local e de ritmo de vida e a perigrinoterapia, uma e outra de grande efeito psicológico. Esta verificação empírica é global em todos os países, em que as águas termais são largamente utilizadas, como na Fraça, na Itália, na Alemanha Ocidental, e nos países do Leste Ruropeu. Não se julgue porém, que o tratamento termal está indicado em todas as doenças reumáticas, pois verdadeiramente ele só é útil nas artroses. As TERMAS estão contra-indicadas em doentes com doenças reumáticas inflamatórias agudas e crónicas agudizadas, bem assim como em doentes com certos problemas cardíacos, renais, hepáticos, etc. Todavia, em certas doenças reumáticas inflamatórias crónicas medicamente estabilizadas, como por exemplo na artrite reumatóide e na espondilartrite anquilosante, a mobilização das articulações doentes dentro da água termal quente pode ajudar a reabilitá-las.
Porém e tal como acontece na praia, o tratamento termal só deve ser efectuado sob recomendação médica. Os médicos hidrologistas, isto é, os médicos das termas, são os responsáveis pelo tipo e pela duração do tratamento termal a efectuar. É preciso, porém que os doentes reumáticos, ao irem para as termas, não interrompam os tratamentos prescritos pelos seus especialistas em Reumatologia, como o pretexto de que os medicamentos já não são precisos. Isso é um disparate, e pode ser altamente inconveniente como acontece, por exemplo, com os doentes tratados com metotrexato.
A experiência tem demonstrado em todo o mundo, que no tratamento dos doentes reumáticos as águas mais aconselhadas são as sulfúreas, em particular as sódicas. Em Portugal (ver mapa) existem águas sulfúreas ou sulfurosas no continente e nos Açores. No continente, e caminhando no sentido Norte-sul, são sulfúreas, entre outras, as águas de Monção, do Eirogo (Barcelos), de Vizela, das Caldas da Saúde (S. Tirso), de Entre-os-Rios (Penafiel), de S. Pedro do Sul, de Alcafache (Viseu), de Manteigas, das Caldas da Rainha, de Fadagosa de Mação (Abrantes) e de Cabeço de Vide (Alter-do-Chão). Nos Açores são sulfúreas as Termas das Furnas (S. Miguel), as do Carapacho (Graciosa) e as do Varadouro (Faial). Algumas destas termas são dirigidas por reumatologistas, o que é extremamente vantajoso para os doentes.
(Tratamentos termais prescritos nos cuidados de saúde primários do Serviço Nacional de Saúde, comparticipados pelo Estado: Portaria n.º 337-C/2018, projecto-piloto durante o ano de 2019, alterada pelas Portaria n.º 102-B/2021 e Portaria n.º 285/2022, de 30 de novembro).
Veja aqui a lista de termas com as quais a nossa associação tem protocolo.
A montanha é desaconselhável no Inverno, podendo ser utilizada no Verão, e o campo é excelente para as férias dos doentes reumáticos crónicos.
Independentemente da sua localização, um bom hotel com piscina aquecida onde os doentes possam mobilizar as suas articulações doentes e nadar, é sempre um bom local para os doentes reumáticos com maior poder económico passarem as suas férias.
Os doentes que gostam de passar férias a viajar não o devem fazer de automóvel (o comboio é o melhor meio de transporte para os doentes reumáticos), e não devem "correr" de umas terras para as outras em curto espaço de tempo pois, se assim o fizerem, vão chegar ao fim das férias mais cansados e seguramente mais doentes.