Envelhecimento e Artrose
A ideia que a artrose é o resultado do envelhecimento das articulações está profundamente enraizada. As articulações artrósicas são, para a maioria, sinónimo de articulações velhas e, por isso, alguns doentes ficam muito admirados quando ainda se sentem muito capazes, jovens pelos quarenta ou cinquenta anos, quantas vezes até sedentários, e são confrontados com o diagnóstico da doença.
Este conceito está espalhado muito para além da população geral, envolvendo autoridades, responsáveis por políticas de saúde, profissionais de saúde a até muitos médicos, provocando uma preocupante desvalorização da doença e dos doentes, que pode estar na base de que, sendo a doença crónica mais frequente, é manifestamente desconhecida e mal tratada.
A osteoartrose é uma doença completamente diferente do processo fisiológico ligado ao envelhecimento da articulação, mas é uma verdade absoluta que todas as formas de artrose estão profundamente associadas ao envelhecimento. Dito de outra maneira, o envelhecimento não causa artrose mas está de tal forma associado que será muito raro encontrar a doença em fases menos avançadas da vida.
O envelhecimento articular provoca uma redução concêntrica e homogénea do número de células que produzem cartilagem – os condrócitos - e da espessura dessa mesma cartilagem. Na osteoartrose, numa primeira fase os condrócitos proliferam e a espessura da cartilagem aumenta, talvez tentando recuperar da agressão a que podem estar sujeitos, e só depois se dão por vencidos, reduzindo o seu número e dando origem a zonas de cartilagem degradada em grau variável.
No plano bioquímico também os processos divergem de forma absoluta. O que se passa e que está, provavelmente, na origem desta tão forte associação, é que os tecidos articulares envelhecidos ficam predispostos para resistirem menos às agressões que, de uma forma mais ou menos evidente, estão na base da maior parte das situações de artrose.
Por isso, a osteoartrose não é um processo inelutável que deriva forçosamente do passar dos anos. É, isso sim, uma doença articular que resulta das vicissitudes que a articulação sofreu e que tem condições para progredir melhor num terreno fragilizado, tal como em articulações já afetadas por outras doenças ou em articulações, simplesmente, envelhecidas.
É muito importante desfazer esse conceito errado que faz dos artrósicos uma espécie de piegas que não aceitam envelhecer num recato que os levará, inexoravelmente, à dor, à disfunção articular e a graus diversos de incapacidade com consequente impacto no humor, na recreação e na participação social. É urgente contrariar essa noção que leva à desvalorização da doença e dos doentes, envolvendo todos, desde os médicos ao público em geral, num processo educativo que destaque os aspetos principais da doença.
Felizmente que a osteoartrose não afeta de forma grave nem duradoura os mais de dois milhões de doentes que dela sofrem em Portugal. Ainda bem que a maior parte dos mais graves pode consultar um especialista e receber conselhos e tratamentos que os vão melhorar muito e modificar de forma evidente a sua precária qualidade de vida. Mas é para estender esses benefícios a todos os outros que devemos trabalhar e é por isso que existe este Núcleo.
Dr. Rui André (Reumatologista, Vice Presidente da LPCDR)
Artigo publicado no Boletim nº 46 (Outubro a Dezembro de 2012)