Ricardo Fonseca
Gozar a vida ao máximo! Dar o máximo gozo à Vida!
Sou o Ricardo, de 32 anos, vivo na Quinta do Anjo (Palmela) em Portugal e sou enfermeiro de pediatria, escritor e terapeuta, tendo sido diagnostica fibromialgia em 2015, apesar dos primeiros sintomas terem surgido em 2006. Aquando o diagnóstico senti um turbilhão de emoções antagónicas relacionadas com o meu desconhecimento sobre a doença, a incompreensão dos seus sintomas e a não-aceitação das limitações e mudanças provocadas pela doença.
Após um período de reflexão iniciei um processo terapêutico de introspeção e decidi aplicar a escrita terapêutica no desenrolar do meu processo de aceitação, terapia que desenvolvi há uns anos e onde a escrita é utilizada para permitir a expressão, compreensão, integração das emoções experienciadas em diversos processos vivenciais e neste caso, na aceitação da existência da fibromialgia em mim.
Sempre fui um rapaz muito ativo, percorrendo o país promovendo a escrita terapêutica, de modo a poder auxiliar mais pessoas a lidar com as suas emoções e após o diagnóstico, parei durante um longo período de tempo de modo a entender o que tinha que mudar na minha vida e no desenrolar do meu processo de cura emocional certifiquei-me que só depende de mim a manutenção da minha autonomia, o controlo dos sintomas e viver a minha vida com o máximo de qualidade possível. Desde essa altura iniciei vários processos terapêuticos como a psicoterapia, a prática de Yoga, alterei alguns padrões alimentares e comecei a escutar o meu corpo, percebendo quais os movimentos que me causavam mais dor, quais as emoções que potenciavam a dor que sentia.
No meu local de trabalho comecei a adotar novas posturas ao levantar as cargas, a proteger o meu corpo, este templo, que se encontrava ameaçado e começava a apresentar algumas limitações, sendo que ainda não era o seu tempo para surgir e para condicionar a minha forma de estar, sentir e viver. Ao mesmo tempo comecei a perceber quais os períodos de pausa necessários, quais os turnos mais adequados de modo a que a terapêutica tivesse o efeito devido.
A dor continuava e continua a invadir-me diariamente, interferindo com a minha vida profissional e social, porém sei que posso ajudar a controlar a dor, utilizando outras ferramentas além da medicação e da prática de exercício físico, pois tinha que lidar com o que sentia, com a culpa que se instalava ao evitar sair de casa, ao deixar de estar com os amigos, por não querer aceitar as minhas limitações.
Por isso, comecei a escrever cartas há minha doença, tratando-a por Tu, como se fosse uma pessoa com quem queria e precisava falar, para dizer o que sentia, manifestar as minhas preocupações, contar como eram os meus dias desde a sua chegada e comecei de igual modo, a escrever sobre a minha dor e a partilhar esses textos nas redes sociais e em grupos de apoio, de modo a que algumas pessoas se pudessem identificar comigo, independentemente da sua doença. Comecei a receber inúmeras mensagens de outras pessoas com patologia reumática a dizer que gostariam de saber conversar com a sua doença, dizer o que sentiam aos seus familiares, amigos, de modo a que fossem mais compreendidas e ao mesmo tempo de modo a conhecerem melhor a forma como se sentiam consigo mesmas desde que a doença surgiu nas suas vidas.
Desenvolvi então os workshops de escrita terapêutica nos processos de doença e dor, que vou realizando pelo país e cujos destinatários são pessoas portadoras de doença crónica, em especial do foro reumatológico, onde através de exercícios de escrita personalizados, oriento os participantes a escrever à sua doença, aos seus familiares e a si mesmas, compreendendo o papel da doença nas suas vidas e a forma de conquistarem de novo o controlo das suas vidas e a sua autonomia, sem permitir que a doença as aprisione e condicione o seu viver, por mais fortes que possam ser os sinais e os sintomas.
De igual modo, comecei a participar ativamente em grupos de apoio, onde com a minha experiência influenciei positivamente a esperança e a motivação dos outros participantes, que contavam as suas experiências e começavam a delinear novos objetivos e metas para a sua vida, vivendo cada dia com intensidade e felicidade genuína, mesmo naqueles em que a dor os fazia sucumbir e sentir sem ânimo. A depressão foi perdendo o seu poder na minha vida e os momentos de felicidade passaram a ser em maior quantidade do que os de tristeza e angústia, pois apesar da dor e das limitações, sentia-me feliz, dono da minha vida e a conviver em harmonia com uma doença que por si só criava o caos na minha vida.
Alcancei a harmonia na minha vida, exponenciei a esperança num futuro mais risonho, onde sei que terei que executar muitas mais mudanças, mas que serão ao meu ritmo e segundo o meu poder de escolha e não porque a doença me obrigou a tal transformação. Consegui recuperar lentamente a minha autonomia física, pois a dor foi diminuindo a sua intensidade, ao controlar os movimentos nefastos, ao aumentar os períodos de descanso e, acima de tudo, ao compreender e aceitar cada emoção que sentia como sendo verdadeira e necessária para poder ser mais feliz e deixar de me sentir como um doente, apesar de a doença conviver comigo.
Assim, consegui atingir grandes objetivos de vida como publicar livros, terminar o meu mestrado em cuidados paliativos, ser voluntário de várias associações de solidariedade social, partilhar o meu conhecimento e experiências nos workshops e palestras que ministro pelo país, ajudando tantas pessoas a crescer e viver com mais felicidade. No entanto, está em curso a concretização de um novo e grande objetivo que é a elaboração de um livro intitulado “Viver com fibromialgia – Vivências e emoções de um Homem” que tem como intuito partilhar a forma como vivo e lido diariamente com a fibromialgia e como consigo otimizar e potenciar a minha qualidade de vida e felicidade.
A Vida deve ser vivida gozada ao máximo, com intensidade e valorizando as pequenas conquistas do nosso dia-a-dia, valorizando as emoções e as nossas relações humanas e, sei que jamais será a fibromialgia a impedir-me de viver a vida com muito gozo!
Ricardo Fonseca, 2015
32 anos, Fibromialgia